OS LOBOS – A EQUIPA UM A UM
A GEÓRGIA VEM A LISBOA NA POSIÇÃO DE FAVORITA À VITÓRIA no jogo e no Campeonato da Europa, mas com a consciência de que a sua tarefa não será fácil e de que a equipa portuguesa tudo fará para repetir os êxitos conseguidos entre 2003 e 2005.
A certeza dessa consciência é garantida com o cuidado que foi posto na preparação da equipa, e na escolha minuciosa dos seus jogadores, quase todos a jogarem em França e cinco deles na mais importante competição daquele país, a Top-14.
Mas será que esse facto será suficiente para garantir a vitória georgiana?
Sinceramente cremos que não, e se o estilo de jogo do nosso adversário se mantiver, se não houver capacidade para porem as linhas atrasadas a funcionar e a atacar – e muito – não será o maior poder, no papel, dos seus avançados que lhes dará a vitória.
E isto porque não basta dizer-se que uma equipa é superior à outra, para que ela o seja na realidade. É necessário comprová-lo no campo, e para isso há que contar com o adversário e com aquilo que ele permitirá que se faça.
E convém referir desde já que apesar das volumosas vitórias obtidas pelos Lelos nos dois primeiros jogos do torneio, a verdade é que a equipa portuguesa não tem qualquer comparação com a Ucrânia ou com a equipa espanhola que se deslocou à Geórgia.
Mas vamos dar uma vista de olhos à nossa equipa, para vermos se existem razões para entregarmos o favoritismo aos georgianos.
Pilares
Se do lado da Geórgia se vão apresentar dois jogadores experientes e poderosos, com muita rodagem na Top-14, do lado lusitano também não estamos nada mal:
Juan Murré e Cristian Spachuk tem demonstrado ser – em dois jogos de elevada dificuldade – capazes de garantir o equilíbrio das forças na formação ordenada e, tão importante como isso, tem desenvolvido um trabalho em toda a largura do terreno, com intervenções constantes na defesa ao largo e na movimentação da bola, como não é costume ver-se no europeu.
Em termos de experiência, pouco ficarão a dever aos seus adversários diretos, com Murré a ter feito os jogos da Amlin Challenge Cup quase sempre em posição de inferioridade, já que o El Salvador não é Portugal e o equilíbrio do nosso conjunto de avançados lhe dá uma muito maior cobertura, e com Spachuk a trazer na sua carga recente 20 jogos na ProD2, dos quais 14 na equipa inicial – são praticamente 1000 minutos de jogo nesta época, e a segunda divisão francesa, naquele particular aspecto das formações, pode em certas circunstâncias ser bem mais exigente que a Top-14.
No banco vai estar Anthony Alves que, apesar da sua juventude, já provou estar à altura das necessidades, e que poderá em qualquer momento ocupar um lugar dentro de campo.
Talonador
Akvsenti Giorgadze ao contrário dos seus colegas de primeira linha, e apesar de ter muita experiência conquistada especialmente em jogos da Top-14 até ao final da época passada, este ano apenas participou de um jogo do campeonato francês e por escassos quatro minutos, e em dois jogos da Heineken Cup num total de 43 minutos. Com 34 anos, o talonador da Geórgia não parece fazer parte dos planos do treinador da sua equipa de clube, nem agora, nem para o futuro.
Na equipa portuguesa João Correia não é apenas um experiente jogador, como é um jogador respeitado no grupo, a alma da alcatéia. Sólido, discreto mas eficaz, não será com toda a certeza por aí que os Lobos vão fraquejar, e se tivermos em conta que no banco está um jovem (23 anos) jogador, Lionel Campergue, que sempre que tem sido chamado tem demonstrado que o futuro do miolo da formação está assegurado, podemos ficar tranquilos. Quanto ao Lionel, só não sei se gostei daquele cortezinho de cabelo...
Segunda Linha
Dois pesos pesados da Federal 1 completam o cinco da frente georgiano e aqui Portugal leva vantagem, e essa vantagem pode mesmo significar que no conjunto dos homens da frente, a haver desequilíbrio, ele pode pender para o nosso lado.
Juan Severino não joga em França, mas quem o viu fechar a formação com a segurança com que o fez nos dois jogos anteriores, quem o viu cobrir terreno e dar consistência ao grupo, só pode dizer que a sua passagem de número 8 para fazer parelha com Gonçalo Uva, não vai diminuir o excelente trabalho que Eduardo Acosta fez até agora.
Quanto a Gonçalo Uva, a sua maturidade e o seu conhecimento do jogo garantem a qualidade do conjunto. Sem contarmos que será o homem mais alto em campo e que em conjunto com Severino, Spachuck, Murré e Correia, contribui para os 548 quilos do cinco da frente, com que equilibramos os 547 da oposição.
No banco Rui d’Orey é também a certeza que a sua entrada em campo não vai reuzir as capacidades da equipa.
Terceira linha
Está claro que a ausência de Laurent Balangué vai ser falada, em especial depois do extraordinário jogo que ele fez na Rússia, mas a verdade é que Vasco Uva, Julien Bardy e Tiago Girão tiveram um comportamento exemplar em Novembro, e Girão, depois do repouso a que foi forçado, deve querer recuperar o seu lugar na equipa, o que, juntamente com a mobilidade e agressividade de Uva e Bardy, apenas deixa para Mamuka Gorgodze a classificação de um adversário de peso.
E digo de peso não apenas pelos seus 120 quilos, mas pela qualidade e consistência do seu jogo, que podem colocar o colega de Gonçalo Uva no Montpellier – onde tem jogado na segunda e na terceira linha asa - como uma das principais peças da equipa dos Lelos.
Quanto aos nossos asas, conseguem ocupar o terreno com grande eficácia, serão sempre duas setas visando o ataque georgiano, e quando tiverem a bola na mão são uma mais valia a que se pede apenas que não percam a cabeça.
Vasco Uva deve ter aproveitado o descanso que o nascimento da sua filha lhe proporcionou para recuperar algum cansaço acumulado, e espera-se que esteja cheio de fome de bola, coisa que Julien Brady tem sempre, nem é preciso perguntar!, e agora ainda mais com a perspectiva de vestir a camisola dos Barbarians no jogo dos 150 anos do Richmond RFC.
Jacque Le Roux é o rookie desta equipa, mas a avaliar pelo que tem feito internamente, a sua chegada à equipa é um facto com certeza positivo, e vem aumentar o nível de soluções ao dispôr de Errol Brain.
O médio de formação
Como já referimos anteriormente este poderá ser o ponto mais sensível da nossa equipa, mas Errol Brain ao optar por Pedro Leal no XV inicial, assumiu que as nossas linhas atrasadas podem render o mesmo, ou mais, do que com ele com a camisola 15, e acaba por ser uma opção que decorre do que se passou em Sochi.
Pedro Leal tem todas as condições para fazer um bom trabalho, e se a opção do treinador foi a de garantir uma maior circulação da bola ao cuidado das linhas atrasadas, então ele cumprirá com certeza a sua missão. E se as coisas começarem a correr menos bem com essa opção táctica, e houver necessidade de mudar, então José Pinto será o homem indicado para pôr gasolina no fogo dos nossos avançados.
O médio de abertura
A passagem de Joe Gardener para a posição chave do ataque foi um risco que a equipa técnica correu, mas que o tempo acabou por justificar.
O seu pontapé longo, que a equipa adopta como forma de transferir o jogo e a responsabilidade de não fazer erros, para os ombros dos seus adversários, a potência e rigor das suas transformações (já soma quatro penalidades e quatro transformações de cinco ensaios, neste europeu), que obrigam o adversário a evitar cometer faltas em qualquer lugar do seu meio campo são uma importante mais valia para os Lobos, e justificam por si só a sua chamada à titularidade.
Com os 20 pontos marcados, Joe Gardener ocupa a segunda posição na tabela dos marcadores de pontos desta competição, atrás de Merab Kvirikashvili que conta com 26, mas curiosamente na Federal 1 francesa onde ambos jogam, é Gardener que vai à frente com 165 contra 142 pontos marcados pelo Lelo..
Mas Gardener faz mais que usar os pés e pelas suas mãos têm passado muitas das movimentações ofensivas de Portugal, além de que tem melhorado substancialmente a sua capacidade defensiva.
No banco fica Pedro Cabral que com as suas 30 internacionalizações garante a segurança que um abertura tem que transmitir à equipa.
As linhas atrasadas
Este é o sector mais destacado da equipa lusitana, com um par de centros sólidos a defender e eficazes a atacar e um trio de trás de grande capacidade e rigor.
Pedro Silva e Frederico Oliveira dão todas as garantias que se podem exigir a este nível, assegurando uma quase total impenetrabilidade defensiva e a certeza de que qualquer falha na defesa adversária será explorada, enquanto Gonçalo Foro assegura não apenas uma cobertura de espaços defensivos muito agressiva, como consegue com regularidade encontrar espaços de ataque que parecem não existir.
José Lima, este ano promovido à equipa dos Lobos, cresce jogo a jogo, e são visíveis as correções que vem fazendo aos – poucos – erros que a sua juventude tem provocado nas suas actuações.
No banco Francisco Mira não compromete sempre que há necessidade de ser utilizado.
Finalmente temos António Aguilar que começou muito bem a campanha contra a Roménia na ponta direita, com uma eficácia defensiva que o distingue como um dos melhores executantes da Europa naquela posição. Mudando depois para a posição número 15, temia-se que o nível das suas actuações pudesse baixar, já que são dois sistemas diferentes de defender, os espaços são outros e isso poderia trazer algumas complicações.
Mas não foi nada disso que aconteceu, e se Aguilar souber manter a serenidade que a posição exige, e utilizar as armas do contra ataque e do pontapé longo de forma adequada, estamos certos que vai criar muitas dificuldades à equipa da Geórgia.
Em resumo
Não pretendi fazer uma análise exaustiva de cada jogador – até porque não tenho acesso às estatísticas que a equipa técnica da nossa seleção possui, nem tive a oportunidade de analisar todos os jogos realizados em vídeo – mas apenas transmitir a idéia com que fiquei do que vi e deixar bem claro que gostei do que vi.
Agora uma coisa é certa – se há alguém que deva estar preocupado, esse será o treinador da Geórgia, que tem obrigação de ganhar, mas se calhar não tem as armas, a arte e o engenho para o conseguir.
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